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Violência Contra a Pessoa Idosa

Tão delicado quanto importante falar sobre esse tema relacionado a violência contra a pessoa idosa. Como o crescimento da proporção da população idosa no Brasil se iniciou apenas nas últimas décadas, não faz muito tempo que esse tema vem sendo discutido da forma atual onde o Estado e movimentos institucionais estão dando a devida relevância a este que deve ser considerado uma questão pública a ser combatida. Um grande estudo publicado na revista “The Lancet” em 2017, onde foram analisados dados de todas regiões do mundo, trouxe o triste e preocupante achado que 1 a cada 6 idosos são vítimas de violência. Outra informação importante acerca desse assunto é que, como muitos de nós já poderíamos imaginar, a maior parte dos casos ocorrem dentro do ambiente domiciliar.

É interessante primeiro trazermos a definição de violência contra a pessoa idosa. Segundo o nosso Estatuto do Idoso “considera-se violência contra o idoso qualquer ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico.” Já pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a violência contra a pessoa idosa “podem ser atitudes ou omissões (este último descrito como negligência) intencionais ou não intencionais” e “independentemente do tipo de abuso geralmente acarretará em sofrimento desnecessário, lesão ou dor, a perda ou violação de direitos humanos e a perda de qualidade de vida da pessoa”.

A violência contra a pessoa idosa é dividida em categorias:

  • Abuso físico: ação contra o idoso que gera dor, lesão, restrição e coerção física. São exemplos maus tratos com tapas, beliscões, objetos (como cordas, cintos...), armas, etc.
  • Abuso Psicológico: ação de impor sofrimento e angústia emocional. Atitudes de discriminação e desprezo são as mais comuns a gerarem esse tipo de sofrimento ao idoso. Frases como “você dá muito trabalho”,“ você é um inútil” ou “ você é um grande problema pra nós” são exemplos que geram impacto emocional que configuram o abuso psicológico.
  • Abuso financeiro/patrimonial: ação de exploração ilegal ou imprópria de bens e recursos da pessoa idosa. Exemplos mais comuns são quando pessoas utilizam o dinheiro da pessoa idosa para benefício próprio sem o consentimento da mesma (quando o idoso possui cognição preservada) ou quando se faz uso do cartão de crédito do idoso de maneira imprópria; quando se faz dívidas com o nome do idoso; quando se apossam de bens do idoso (bens materiais simples ou até mesmo casas). Também é um tipo de violência que é mais praticado dentro da própria família mas que também pode acontecer em outros ambientes, como em instituições de longa permanência.
  • Abuso sexual: contato sexual de qualquer tipo não consentido com a pessoa idosa. Esse tipo de violência é a menos comum (menor que 1%), porém infelizmente ocorre. As vítimas idosas mais comuns desse tipo de abuso geralmente são mulheres e com algum tipo de comprometimento cognitivo, segundo os estudos acerca desse tema em específico. Podem ocorrer no ambiente familiar ou externos.
  • Negligência: consiste na recusa ou na falha de prover cuidados ao idoso que necessita. São exemplos: não ajudar com as medicações que o idoso faz uso; deixar o idoso com fome ou sem hidratação; não auxiliar em outras necessidades básicas de vida diária, como higiene, etc. O abandono também é um tipo de negligência.

Mas o que fazer para tentar combater a violência contra a pessoa idosa?

Como disse no início deste artigo, cada vez esse assunto está mais em evidência e tomando a proporção que merece, e isso já é um passo. A conscientização dos governantes e das pessoas sobre esse problema leva a discussões que buscam maneiras para enfrentar e diminuir a violência contra o idoso. É importante que haja um apoio as famílias que cuidam de idosos em suas casas, tentando orientar em relação aos cuidados ao idoso e ajudar em suas necessidades quando possível. Também é importante formar e capacitar cuidadores profissionais cada vez mais com o intuito de que possam prestar a assistência adequada. Não menos importante é também que haja uma construção, através de campanhas e divulgação de informações, de uma melhor percepção do envelhecimento e em relação à pessoa idosa, onde seja reconhecido a importância real que os idosos tem na sociedade e que os mesmos também se vejam assim. Com certeza esse tipo de visão ajudaria a diminuir bastante os tipos de violência contra a pessoa idosa.

Por fim, caso haja o conhecimento de algum caso desse tipo de violência, existe à disposição o Disque 100 (tanto pelo fixo quanto por celular) para denúncias. No Estado do Paraná também existe o Disque Idoso que atende pelo número 0800 41 0001.

Thadeu Jairo Guerra Silva
Médico Geriatra
CRM 28172
RQE 25185