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Viver!

Viver!

Vivemos uma sociedade em que a relação com o sofrimento é rejeitada com todas as formas e possibilidades. Muitas pessoas pensam com certeza que, se formos menos perturbadas com os acontecimentos de nossas vidas nosso sofrimento diminuirá. Na minha experiência e em meus estudos, tenho observado que fugir ou se esquivar da dor, aumenta o sofrimento.

E o sofrimento vem com muitos disfarces, ansiedade, estresse, tristeza, depressão, conflitos interpessoais, confusão, desesperança...

Uma parte de nosso sofrimento é existencial e ocorre na forma de doença, velhice e morte. A outra tem um sabor mais pessoal e pode estar relacionada com nossos aprendizados passados, circunstâncias presentes, antecipação de um futuro sem desconsiderar aspectos da filogênese ou outros inúmeros fatores que podem estar entrelaçados.

As pessoas buscam psicoterapia na tentativa de amenizar este sofrimento, isto é, querem se sentir melhor. A terapia bem sucedida ira mudar a relação do cliente com o seu sofrimento.

No começo parece ser difícil, pois estamos contando nossas dificuldades para uma pessoa fora de nossos círculos, e com a qual não temos vinculo. Entretanto esta parece ser uma vantagem, quando este momento passa e a ligação com o psicoterapeuta se aprofunda, a conversação se torna mais espontânea e autêntica. Este vinculo terapêutico será a via através do qual se irá explorar o que esta perturbando de forma mais profunda, aberta, empática e gentil.

Uma das ferramentas é melhorar nosso autoconhecimento ampliando ou aprimorando nossa análise sobre as variáveis que controlam nosso comportamento, discriminando como pensamos e sentimos a respeito de determinada situação e das consequências das ações, nossas e a dos outros. Podemos aprender uma habilidade de estarmos menos reativos ao que está acontecendo no momento presente. Ampliando nossa forma de nos relacionarmos com toda a experiência, positiva, negativa ou neutra com o intuito de nosso sofrimento global diminua e nossa sensação de bem estar aumente.

Para isto, preciso estar “consciente”(mindful) , vivendo o momento presente com uma atitude amistosa. Sem julgamento ou avaliação, com atenção plena.

Quando não prestamos atenção no que está acontecendo no momento presente, teremos consequências aversivas, e muitas vezes depois nos sentiremos culpados, envergonhados ou irritados, por exemplo: comer e beber sem ter consciência de estar comendo ou bebendo; quebrar ou derramar coisas por estar pensando em outra coisa; ficar preocupado com o futuro ou preso ao passado, não perceber sentimentos ou pensamentos sutis de tensão física ou desconforto, esquecer coisas, etecetera.

O benefício principal de aprender na psicoterapia, através do vinculo terapêutico, esta habilidade (estar consciente e com atenção plena) é a possibilidade de flexibilizar nossas experiências, discriminando o meu “eu”, observando os pensamentos e sentimentos dentro de um contexto, sem precisar lutar com eles, agir de acordo com meus valores, trabalhando na direção de meus objetivos com compromisso.

Ao aprofundar estas habilidades descobriremos que podemos viver com sabedoria e compaixão. Sabedoria que é a percepção e aceitação profunda das coisas como elas realmente são e compaixão refere-se a capacidade de abrir-se para a libertação do sofrimento, de forma generosa. Que tal experimentar viver esta nova experiência?

“Viver é tão absorvente que nos deixa pouco tempo para fazer outra coisa” Emily Dickinson (1872)

Ma. Simone Oliani