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Exames ajudam a avaliar a cognição em pacientes com deficiência intelectual.

Uma bateria de testes desenvolvida originalmente pelo National Institutes of Health (NIH) para avaliar a cognição em pacientes muito jovens e muito idosos parece ser uma ferramenta viável, confiável e válida para medir a cognição em uma alta proporção de indivíduos com deficiências intelectuais, mostra uma nova pesquisa.

"Os desenvolvedores do NIH Toolbox Cognitive Battery (NIH-TCB) tinham a missão de desenvolver uma bateria de testes que fosse utilizável para uma ampla faixa etária, de dois ou três anos de idade até idosos", disse ao Medscape o pesquisador principal David Hessl, professor de psiquiatria e ciências comportamentais na University of California, Davis, MIND Institute, em Sacramento.

"E uma vez que eles passaram muito tempo escolhendo as tarefas e itens das tarefas para que fossem factíveis para crianças muito jovens, percebi que esses testes poderiam ser viáveis para pessoas com atrasos substanciais na capacidade cognitiva", acrescentou.

"E nestes estudos preliminares, observamos que o NIH-TCB tem potencial para avaliar dimensões importantes da cognição em pessoas com deficiências intelectuais, e vários testes podem ser úteis para avaliar a resposta à intervenção".

Estabilidade boa a excelente

Hessl e colaboradores realizaram três estudos piloto para avaliar a viabilidade, a estabilidade e a validade do NIH-TCB para os participantes com deficiências intelectuais de diferentes etiologias.

O primeiro estudo envolveu 63 pacientes com síndrome do X frágil (média de idade de 19,3 anos, com idade mental média de 5,3 anos).

O segundo estudo incluiu 47 pacientes com síndrome de Down (idade média de 16,1 anos, com idade mental média de 5,4 anos).

O terceiro estudo envolveu 16 pacientes com deficiência intelectual idiopática (idade média de 16,1 anos, com idade mental média, 6,6 anos).

O NIH-TCB não só mede a flexibilidade cognitiva, mas também inibição, atenção visual, memória episódica e de trabalho, velocidade de processamento, leitura oral e vocabulário receptivo.

As pontuações foram calculadas para cada paciente nos três estudos, e foi determinado o grau no qual os desempenhos dos participantes desviaram de controles da mesma idade da população geral.

Os pesquisadores descobriram que 80% ou mais dos participantes do estudo alcançaram uma pontuação válida para uma idade mental acima de quatro anos, com exceção de tarefas que avaliam a memória de trabalho.

"Para a maioria das tarefas, números de viabilidade são comparáveis aos de crianças da população geral com idade mental comparável. A estabilidade após repetição do teste foi de boa a excelente", disse Hessl.

"Isso é importante, porque você quer que uma medida seja consistente quando não há tratamento e nenhuma mudança real posteriormente no funcionamento, uma vez que isso permite melhor detecção de efeitos quando de fato é realizado um tratamento", ele acrescentou.

A validade convergente – uma medida de atenção que no NIH-TCB se correlaciona bem com o desempenho de uma pessoa em outra tarefa de atenção – foi pelo menos semelhante e às vezes melhor do que a observada em crianças com desenvolvimento típico em medidas de funções executivas e de linguagem.

Hessl colaboradores também observaram que o desempenho no NIH-TCB se comparava bem com um teste de quociente de inteligência padrão, a Stanford Binet Intelligence Scale.

Potencial para melhores tratamentos

Os pesquisadores, incluindo os desenvolvedores do NIH-TCB, podem agora começar a trabalhar para desenvolver outros tipos de tarefas que meçam a cognição em indivíduos muito mais incapacitados, que têm deficiência intelectual profunda ou grave ou que são muito jovens para executar as tarefas atuais.

A esperança é que uma vez que a bateria seja refinada, os pesquisadores serão incentivados a realizar estudos avaliando diferentes intervenções terapêuticas, sendo mais capazes de julgar a eficácia delas.

Em um comunicado à imprensa, o Hessl observou que a história do desenvolvimento do tratamento direcionado para indivíduos com deficiências intelectuais tem sido frustrante porque os medicamentos que normalizaram muitos aspectos de modelos animais de doenças, como na síndrome do X frágil, parecem ter pouco efeito em humanos, pelo menos em relação a avaliações de comportamento realizadas por cuidadores.

Entretanto, ser capaz de medir a mudança cognitiva antes e após uma intervenção, de uma forma mais objetiva, poderia estimular o desenvolvimento e o estudo de novas drogas terapêuticas que visam mutações genéticas que dão origem a deficiências intelectuais, como as síndromes do X frágil e de Down.

"Ainda acredito que esses tratamentos direcionados podem funcionar com o refinamento correto do desenho do estudo. E acho que nosso laboratório é muito bem estruturado para contribuir com este esforço", disse Hessl.

"Se podemos continuar a fazer progressos em melhores medidas de resultados, poderíamos mudar o curso da pesquisa sobre o tratamento de transtornos do desenvolvimento neurológico".

O estudo foi financiado pelo National Institute of Child Health and Human Development. Os autores declararam não possuir conflitos de interesses relevantes.

J. Neurodev Disord. Publicado online por Pam Harrison em 5 de setembro de 2016. Artigo

Publicado originalmente em Medscape